sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Caixinha de música


Ela sussurra :


Inspiro, expiro-te. Experimento teu perfume em mim.
Trago à memória os instantes que exalamos. Unidos.
No remoto jardim. Abstrato.
Recordo cada verso. Cada prosa, tua.
[Ai]
Um suave murmúrio, meu.
Ao relembrar os teus impulsos.
Entrego-me a devaneios, ainda acordada.
Enquanto o mundo fecha os olhos. E sonha.
Adormeço. E você está aqui. Ao meu lado.
Entorpecida pelas lembranças.
Recolho para mim, esta fantasia.
Aspiro cada detalhe.
Não desprezo teu som.
Guardo na caixinha colorida de fita vermelha.
Do lado de dentro.
Do lado de cá.
Dentro de mim.


Enquanto ele :

Ao lado das memórias
Existe um copo d’água
Ainda cheio, parado.
No meu criado mudo
Ao lado da minha cabeça adormecida. Bebo.
É apenas água. Se fossem lábios.
Mas é água. Morna. Velha.
A mobília coberta por lençóis beges.
Folhas secas espalhadas pelo chão. A janela. Aberta.
- A vista: O Jardim. -
A cortina dança, como uma velha bailarina moribunda.
Olho para as paredes. Lembranças. Mãos e marcas. Fundas
Fecho os olhos por um instante.
Ah! Aquela brisa outra vez. Frescor. Ouço gemidos. Curiosos.
Ouço risos, vergonhosos. Ouço passos, ouço espaços.
Momentos do nada declamado. Pude ver olhares. Mesmo com tudo apagado.
Abro novamente os olhos. A mesma poeira.
Recosto-me no chão.
Por favor, me acorde quando voltar.
Neste quarto me guardo.
A maçaneta se move. Uma música em tom erudito.
Não é jazz.



Autores: Renan Moreira e Juliana Porto

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