sábado, 27 de dezembro de 2008

Vereda de vidro


[Ela]Ouço o som da nossa casa.
À beira-mar.
Escuto o sussurrar dos vidros.
O vento.
Mantido em cárcere privado.
Na minha imaginação.
A minha voz rouca.
Apaga a luz do nosso quarto.
Há sombras deitadas na cama.
Afloram frágeis resquícios
De nós.
Do cheiro bem timbrado.
Em outro tempo.
Enquanto escrevo, sinto o mesmo aroma.
Está aqui, guardado em mim.
Um altar pra nós, decorado de recordações.
A onda levou.
Na vereda indecisa...
Resgate-o?
(*)
[Ele]Uma pele de flor
Um gosto de dor
Uma parede de vidro
Ainda inteira
Doce cheiro de felicidade em fluído
Pra todos os dias até o final
Estava eu equivocado?
Lembranças molhadas no varal
Nunca levantei sequer um dedo contra o amor
Não vai ser agora
Olho dois dentro do vidro, no lábio e no ouvido.
Lá de dentro nunca imaginei que veria dois
Aqui, do lado de fora.
Embora na vereda,
Se vivo és,
Talvez baste chamá-lo pelo nome,
Amor.
Autores : Juliana Porto e Renan Moreira

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

E eu vos declaro...




A menina com o buquê:


Com traje de seda
Olho pra você.
Invado-te através dos olhos teus.
Uma aliança feita de música em nossas mãos.
Que exala essências cítricas quando faço algum movimento.
Algodão, contatos, sons...
E carinhos pressentidos no sonho, conduzem-te a mim,
[No jardim]
Onde me nota e não me experimenta.
Os meus músculos extenuados contraem-se...
Sempre que caminho, a todo instante.
A eventualidade nos forma um só.
E nos inspira a cantar suspiros com a mesma nota.
Ausculto teu coração.
Que invoca meu nome calado.
Em voz de poesia.
[Exausta]
Descanso-me em ti.
Teus dedos seguram os meus,
E examina meu corpo,
Laços, seda, rendas...
Nesta hora descoberto.
Ficamos imóveis,
Com os braços enlaçados.
Consentindo os olhos conversarem.
Por si.
...Tanta coisa pra falar...


O menino de fraque:

Não se iluda com o tamanho do fraseado
“Tanta coisa pra falar”
Copio-te
Palavras e Palavras
Porta-retratos em uma estante
Um instante
Ainda não
-Foge de mim qualquer palavra maior que o teu olhar-
Versos cor de grama de jardim
Medida do teu corpo
-Em Celsius-
Toque leve, a arpejar.
Um altar de qualquer coisa mais suave que esse chão.
Preciso do mesmo descanso, nos teus.
Um beijo na própria canção
Eu aceito, pra ser maior do que teu coração.
Espero, pra ser sincero.
Declaração autenticada com a assinatura do teu pudor.
Na alegria e na tristeza.
...Vontade de não largar a prosa...
[Sonho esculpido]
Conversa de olhares em núpcias
Botão de rosa despido.


Autores : Juliana Porto e Renan Moreira

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Caixinha de música


Ela sussurra :


Inspiro, expiro-te. Experimento teu perfume em mim.
Trago à memória os instantes que exalamos. Unidos.
No remoto jardim. Abstrato.
Recordo cada verso. Cada prosa, tua.
[Ai]
Um suave murmúrio, meu.
Ao relembrar os teus impulsos.
Entrego-me a devaneios, ainda acordada.
Enquanto o mundo fecha os olhos. E sonha.
Adormeço. E você está aqui. Ao meu lado.
Entorpecida pelas lembranças.
Recolho para mim, esta fantasia.
Aspiro cada detalhe.
Não desprezo teu som.
Guardo na caixinha colorida de fita vermelha.
Do lado de dentro.
Do lado de cá.
Dentro de mim.


Enquanto ele :

Ao lado das memórias
Existe um copo d’água
Ainda cheio, parado.
No meu criado mudo
Ao lado da minha cabeça adormecida. Bebo.
É apenas água. Se fossem lábios.
Mas é água. Morna. Velha.
A mobília coberta por lençóis beges.
Folhas secas espalhadas pelo chão. A janela. Aberta.
- A vista: O Jardim. -
A cortina dança, como uma velha bailarina moribunda.
Olho para as paredes. Lembranças. Mãos e marcas. Fundas
Fecho os olhos por um instante.
Ah! Aquela brisa outra vez. Frescor. Ouço gemidos. Curiosos.
Ouço risos, vergonhosos. Ouço passos, ouço espaços.
Momentos do nada declamado. Pude ver olhares. Mesmo com tudo apagado.
Abro novamente os olhos. A mesma poeira.
Recosto-me no chão.
Por favor, me acorde quando voltar.
Neste quarto me guardo.
A maçaneta se move. Uma música em tom erudito.
Não é jazz.



Autores: Renan Moreira e Juliana Porto

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Algum bom dia.


Ela diz :


(...)

Logo que começo a perguntar pela tristeza...É que a encontro. No meu travesseiro. Ela sempre esteve aqui. Quando ando nas pontas dos pés para não acordá-la, ela ouve. E me abraça. Começo então a chorar. Lágrimas no tom do medo de uma criança. Choro-te. Agarro a minha angústia. Como um reflexo. Ação e reação. E por difusão, invade os meus pensamentos. Saiu da minha cama. Está na minha mente. Agora. Por hora. Necessito do calor dos teus braços, tristes. Onde a falta de assunto dá espaço para relembrar cada instante, nosso. Olho pra tua dor e sinto tua voz , que em mim torna sombria seduzindo a imitação de um sorriso meu. Olha pra mim. Dentro dos meus olhos.A bordo. Fazendo-me navegar nas tuas mãos. As que escrevem poesias. Que importância tem o tempo, os meses, os anos?... Quando o sentimento é eterno? Almas unidas, sem começo, nem fim. Cubra-me com o céu. Raso. Precisando então do teu cobertor. Do teu contato. De repente, um vácuo, desinteressante. Não me põe de lado. Volta aqui. Abotoa-me entre teu peito e marca uma lágrima ao contrário da tua. Não vá.



Ele diz :


E eu que não sou do avesso, me entristeço. Choro, claro que choro. Muito, se o peito agüentar. Se os sonhos permitirem. Mas me distraio.
Uma nuvem: Formato exato de dois sorrisos de palhaços
Meu queixo cai. Desapontado comigo mesmo. Incoerente. Inocentemente perdido. Tateio o chão e vejo que é de vidro. Ironia. Falta de um verso comprido. De um teatro, novela anunciada. Que alguém me fale que não se passa de um grande espetáculo de mau gosto!
Um bilhete no palco: Aquele garotinho ainda cuida do jardim.
Lembranças que vem. Voltam. Sorrateiramente fazem do meu consciente o semblante.
Onde vai dar? Pronto, estou preparado. Que nada, você só está envergonhado. Sabe exatamente o que quer falar pra ela, agora. E sabe que não irá falar. Lugares, pedaços, músicas. Vem agora. Sem falar nada, sem ter o que contar. O que explicar. Vem. Olha com aqueles olhos, os teus olhos. Meus só pra poder te enxergar numa vida cheia de acasos. Algum bom dia. Acordará com um pequeno bilhete debaixo do seu travesseiro.

Bilhete: Sonha comigo. Lá sempre estamos juntos.








Autores : Juliana Porto e Renan Moreira